Por muitas vezes a gente entende a vida como uma escada: vamos subindo degraus, e de degrau a degrau vamos alcançando um “topo”. Nessa metáfora, cada degrau apresenta um novo estágio que nos dá um platô – às vezes maior, às vezes menor – para ficar e firmar o pé. É uma metáfora interessante. Mas traz uma grande complicação: não é justa com a vida e nem com o empenho que fazemos nela.
Primeiro, é de se questionar se estamos subindo na vida, como se houvesse um plano mais elevado para alcançarmos. Afinal, quantas e quantas vezes não temos a sensação de estarmos andando em círculos? E que mesmo nos círculos temos uma súbita percepção de mudança?
Também a idéia de degraus e seus platôs não parece ser muito justa. Nós não mudamos de estado tal qual a água se faz gelo em dada temperatura. Nós somos dinâmicos porque somos expressão da vida que contemos. Assim, não temos platôs, podemos até ter períodos, de tranquilidade, de sofrimento, mas ainda nesses momentos estamos colhendo inovações, mudanças, fazendo pequenas escolhas.
Para completar, parece que há um “determinismo” assustador aí no meio de tudo isso. Tolstói fala em “Guerra e Paz” de como surpreendentemente aquilo que nos fez chegar até certo ponto foi uma sequência de eventos, e que por mais que quiséssemos que eles fossem diferentes, na verdade, eles foram fundamentais para que nosso presente se fizesse daquele jeito. Ou seja, quando vivemos algo podemos não acha-lo bom, mas logo em diante algo de novo acontece e isso não poderia ocorrer sem aquele passado.
Tudo isso coloca na roda a evidência do tempo que vai correndo em nossas veias como nossa existência corre sem nos darmos conta. O tempo passa e tem de passar. Einstein dizia que a razão da existência do tempo é que tudo não aconteça de uma só vez. É uma idéia bonita e interessante. O tempo é a expressão de si mesmo.
Ora, por que falar tanto de tempo? Não é ao acaso, certamente que não! Nesse dia 30 de agosto de 2014, a FRACTAL Núcleo de Avaliação Psicológica, celebra seu terceiro ano de existência. Muitas águas já rolaram por debaixo das pontes. Vários círculos, várias sensações de inevitabilidade, vários questionamentos. Uma crença e um desejo servidos com muito receio. E cá estamos, completando três anos. Estamos em um novo estágio? Um novo platô? Não. Estamos num instante que é fruto de escolhas, pequenas e grandes, e tantas ações e omissões. Porque a FRACTAL Núcleo de Avaliação Psicológica é o exemplo claro da vida que está presente em nós, ela é fruto de um empenho humano. E é fruto também de várias companhias. A FRACTAL Núcleo de Avaliação Psicológica é estrondosamente singular porque é feita por pessoas, mas não só isso, ela se dedica a isso: a admirar as singularidades de cada pessoa. De cada pessoa com seu tempo, e em cada tempo com nosso tempo de presença.
São muitos desafios, são muitas escolhas. É muito tempo e ao mesmo tempo quase nenhum. O que nós temos é praticamente inalcançável às mãos afoitas por algo muito concreto. Nós temos uma narrativa, temos uma história, rascunhada e reescrita em cada instante. Fruto de um trabalho igualmente intangível. A FRACTAL Núcleo de Avaliação Psicológica carrega consigo aquilo de desconhecido que o Drummond fala (Carrego comigo).
Nesse momento de celebração, desejamos ter muito mais tempo pela frente. De preferência cada vez mais acompanhados pelo tempo das pessoas que nos fazem companhia. Mas, enfim, que tenhamos muito tempo. Pra que não tenhamos que lidar com tudo no mesmo instante, para que possamos nos dedicar a ter um olhar para cada um. Para que tenhamos uma ampulheta feita para cada um. Que ela seja complexa como tudo que inclui o ser humano. Que ela seja marcante como toda beleza que temos. Que ela nos permita saber até quando ir e quando retroceder. Enfim, que ela seja uma ampulheta não feita para marcar um tempo que corre, mas que deixe evidente que o que se passa diante de nós, que corre aos nossos olhos e que pede nossa atenção para todos os seus grãos. Que tenhamos muito tempo!