O Dia Mundial da Saúde desse ano traz a importância da depressão, com a campanha “Depressão: Vamos Conversar”.
E o tema ataca um ponto muito importante: a depressão é uma doença séria justamente porque é silenciosa! Silenciosa no sentido de que seus sintomas vêm aos poucos, de maneira muito discreta, e vão se instalando aqui, ali e acolá, e também no sentido de que a solidão é um dos efeitos mais avassaladores, deixando a pessoa no abismo do silêncio. O silêncio que o deprimido experimenta é o resultado da perda da conexão com as outras pessoas e com sua própria história.
É muito comum que a pessoa deprimida não se dê conta de que não está mais tão interessada em sair, em conversar, em participar de um evento… aos poucos, vai procurando ficar no seu canto, vai sentindo que não se sente tão bem quanto antes, tendo a impressão de que as outras pessoas não entendem de fato seus problemas e que por isso não vale a pena.
Além disso, desse distanciamento, da perda do prazer, eventos passados começam a ser remoídos, vontades que não foram realizadas, desejos que caíram ao longo da estrada e lá ficaram. Ou então os temidos arrependimentos, tanto de ter feito quanto de não ter feito. E junto desse passado que assombra, vem o “se”: “se eu tivesse feito isso”, “se eu tivesse perguntando”, “se eu não tivesse medo” e por aí vai… E esse “se” faz parecer que aquela situação hipercomplexa dependesse apenas de uma coisa simples, o que não é verdade na maioria esmagadora dos casos.
A alteração que a depressão traz é muito significativa porque muda a valoração afetiva, ou seja, a pessoa percebe a situação diferente. Imagine que você tivesse uma alteração na retina que fizesse você perceber menos luz nos ambientes. Por mais que o local esteja bem iluminado, sua percepção é que não está, e você continuará com um incômodo e precisará de uma iluminação mais intensa. O problema é que muitas vezes essa iluminação não está disponível. Daí vem o fator acumulativo. Quanto mais na depressão, mais fácil permanecer nela e, pior ainda, mais grave ela se torna.
O tema do Dia Mundial da Saúde é muito relevante porque chama a atenção justamente para a necessidade de falarmos sobre depressão, sem medo. Muita gente tem medo de ir ao psicólogo porque vão achar que está doido. Isso é uma bobagem. É mais corajoso quem pede ajuda, que aquele que fica em casa, isso é fato notório em todos os pacientes. E o tema lança luz sobre uma outra necessidade: vamos TODOS falar sobre depressão? Não só nos consultórios, de maneira reservada, mas abertamente, em casa. Vamos ficar atentos ao que pode ser feito, às maneiras que podemos nos ajudar? Isso é essencial! E é uma forma de cuidado muito bonita e fundamental nos nossos dias.
Quando há uma conexão, uma possibilidade de conversar sobre incômodos, mais suporte existe e menos difícil é para todos. Porque a depressão envolve todas as pessoas que convivem com a pessoa que sofre da doença. Por isso precisamos conversar, precisamos estar abertos, falar e ouvir. Essa troca muitas vezes permite que preconceitos sejam lavados, que oportunidades e novos pontos de vista apareçam. Quanto mais cedo uma pessoa consegue falar de suas angústias, mais fácil para ela lidar com a situação. Agora, quanto mais isolada, quanto menos conversa, pior fica.
O trabalho profissional é um elemento importante e seguro, mas a mensagem vale para todos. Uma sociedade atenta aos seus membros é uma sociedade de diálogo. Isso é essencial. Por isso, vamos repetir sempre, e estamos de portas abertas, afinal de contas não há mistério na depressão. Às vezes há a necessidade de um convite, e aqui está: Depressão, vamos conversar?