Não é engraçado pensar que às vezes estamos fazendo uma tarefa e de repente vem uma lembrança à nossa mente? Ou então, quando estamos resolvendo um problema e “do nada” surge uma idéia, uma imagem que abre novas possibilidades para sanar a questão?
Existem as mais diversas explicações sobre por que isso acontece, além de qual seria o significado por trás de todos esses fenômenos mentais. Mas uma coisa é certa: não temos controle total dos nossos pensamentos. Parece incrível, mas nem tudo que se passa na nossa mente é controlado voluntariamente e muitas vezes nós podemos sem querer acabar perdendo o ponto certo desses pensamentos e imagens que se intrometem no meio dos nossos trilhos. Soa até contraditório pensar que nós não temos consciência de todos nossos próprios pensamentos!
Ainda estamos caminhando para entender como os pensamentos funcionam e como eles podem causar alterações em nós [veja AQUI – só que em inglês – um exemplo de como a prática de Mindfulness pode melhorar marcadores de inflamação e promover outras ativações genéticas. Mindfulness é, a propósito, uma forma de ampliar a capacidade atencional, favorecendo com que sua consciência se volte para o momento presente. Saiba mais aqui sobre Mindfulness, no Projeto de Extensão Mente Aberta da Unifesp].
Porém, isso não significa que tenhamos que deixar de lado todas as nossas crenças sobre o mundo ou que vivamos numa farsa, claro que não! Trata-se de um princípio de pura economia de energia. Se tivéssemos que ter consciência de tudo, acabaríamos não tendo condições de desempenhar nossas atividades. Isso vale para muitos aspectos do nosso funcionamento mental e naturalmente tem seus lados positivos e negativos, cabendo atenção para discernir o que de fato está ocorrendo.
Se da mesma maneira temos subitamente lembranças, imagens e pensamentos que nos ajudam a resolver problemas no dia-a-dia, podemos também ter lembranças, imagens e pensamentos que dificultam a nossa vida e causam impactos negativos, e muitas vezes vamos ficando com essas pequenas “impressões” e elas vão se acumulando e trazendo mais dificuldades ainda.
O que você pensa faz uma enorme diferença sobre o modo como você se porta, e como nós já vimos, nem sempre tudo o que pensamos está fácil e rapidamente acessível à nossa consciência. Precisamos por vezes parar e ativar nossa atenção para verificar se na realidade isso que pensamos é verdade ou qual é a chance verdadeira disso vir a ser verdade. Por exemplo, num momento de grande tristeza e frustração você pode de repente ter um pensamento “nada na minha vida tem sentido” e isso faz com que você se sinta mal e continue triste. Com o passar do tempo, sem querer esse mesmo pensamento pode ficar ecoando na mente, de maneira muito tênue e muito perigosa, como um filete de água que vai escorrendo, escorrendo e lavrando a terra, tirando a sustentação do que ali está erguido.
Fazer o esforço mental de retomar qual é o ponto verdadeiro, qual a reflexão que é justa fazermos a respeito da nossa vida, é essencial para que tenhamos não somente exata consciência de quem somos, mas de quais passos podemos e devemos dar para atingir um resultado que queremos. Algumas pessoas têm mais facilidade para refletir acerca de seus pensamentos e outros fenômenos mentais e dizer “isso realmente reflete quem sou, isso não”. Outras pessoas, e talvez essa seja a maioria das pessoas, não irão facilmente distinguir as coisas, pois não é tão simples atravessar a barreira do que estamos pensando. Daí a importância de ter um auxílio, um familiar, um amigo, ou mesmo um psicólogo que possa ajudar a ver a validade do que se passa na mente, o que eu realmente quero que aconteça e outras tantas questões.
O que nós pensamos são tijolos que vão edificando quem somos. Por isso, pensamentos negativos constantes podem nos levar a assumir muitas posturas negativas e conseqüentemente nos vermos envolvidos em frustrações e decepções. Isso em Psicologia é denominado de Profecia Auto-realizadora, um nome engraçado para algo que eu prevejo que pode ocorrer e tudo o que acontece, independente do fato real, acaba servindo para validar minha previsão. No final das contas, as coisas acabam saindo como o previsto, em geral de maneira negativa, e aí “pronto! Eu sabia que ia ser assim!”.
Contudo, é muito importante destacar que nem sempre temos consciência de nossos pensamentos. Podemos ter vários pensamentos negativistas e nem perceber! Isso faz com que sejamos mais negativos em relação ao futuro sem termos clareza do por que de sermos assim. Daí a importância do auxilio, em muitos casos profissional, que possa ajudar a verificar a realidade das coisas.
Além disso, não devemos pensar que todo pensamento “negativo” é ruim! Pelo contrário, o mesmo funciona perfeitamente para o pensamento supostamente “positivo”, como por exemplo, o pensamento “vai dar tudo certo”. Isso repetido imensas vezes pode fazer com que se acredite que realmente vai dar tudo certo. E o que ocorre? O esforço diminui. Com isso, sem o esforço para que as coisas funcionem, fica bem mais difícil de que o desejado ocorra. E o que ocorre? A decepção e a frustração por “não ter dado tudo certo”. Ou seja, não se trata de pensar positivamente, não é isso que faz com que as coisas se tornem mais presentes para nós. A esperança que temos é bem diferente de ficar pensando positivamente sobre qualquer coisa! É preciso manter a mente aberta e consciente do que é real, das possibilidades concretas e do que enxergamos e podemos extrair da vida.
Para finalizar, vale retomar uma conhecida citação atribuída à Baronesa Thatcher, Margareth Thatcher, ex-Primeira Ministra do Reino Unido, que nos ajuda a ter ainda mais correta proporção da relevância de nossos acertados pensamentos:
“Cuidado com seus pensamentos; eles podem se tornar palavras.
Cuidados com suas palavras, elas podem se tornar ações.
Cuidado com suas ações, elas podem se tornar hábitos.
Cuidado com seus hábitos, eles podem se tornar seu caráter.
Cuidado com seu caráter, ele pode se tornar seu destino”.
Nossos pensamentos, portanto, dão-nos a ocasião para construir nosso próprio destino. Vamos cuidar bem deles.