Prevenção em Psicologia?

Há algum tempo uma reportagem mostrou que a cidade de São Paulo é, dentre algumas capitais do mundo, aquela que apresenta maior número de casos de transtornos psiquiátricos. A notícia mostra então que as condições de vida podem influenciar a expressão de determinadas patologias, e é claro isso deve ser uma preocupação para os governos, profissionais da saúde, empregadores e muito mais gente.

Porém, além de olhar para o lado “negativo” dessa notícia é interessante também pensar que se São Paulo oferece uma qualidade de vida inferior a de Sydney, na Austrália, há que se pensar nas condições de Sydney e ver o que tem lá que poderia ser transposto para cá. Para evitar que essa discussão fique no plano governamental e burocrático, podemos pensar também nas pequeninas situações que nós podemos cuidar dentro de casa ou no trabalho e que ajudam e muito no melhoramento das condições de vida. É no cotidiano que se edificam os tijolos do bom relacionamento e da boa saúde.

Tijolos (Obtido em sxc.hu)

Primeiramente, comecemos pela infância, claro. As crianças precisam de ambientes seguros em que elas tenham um espaço no qual possam se reconhecer, que suas necessidades e seus medos sejam acolhidos e amparados. Um ambiente violento, agressivo, em que existem discussões ou que seja muito imprevisível pode causar desamparo na criança. A rotina auxilia a criança porque a ajuda a entender o que esperar daquele ambiente e se sentir segura para correr seus primeiros riscos. Isso não significa que devamos construir um ambiente engessado, rígido, mas um ambiente em que se saiba o que esperar, com as alterações que vem naturalmente. Esse ambiente seguro oferece papéis que ela reconhece, o papel dos seus pais/cuidadores. Toda criança carece de figuras de referência, nas quais ela reconheça que existe uma unidade que dá a ela a atenção e o cuidado necessário.

Tal ambiente favorece o diálogo não só com a criança mas entre os pais, cuidadores e outros envolvidos. EM GERAL, se um casal não conversa entre si, dificilmente conversará sobre seus filhos e toda família também conversará pouco. Com isso o processo de criação fica capenga, às vezes parecendo um cabo-de-guerra. Essa situação é que costuma causar muitas dificuldades para os adolescentes no instante em que são lançados no mundo e começam a construir redes de relacionamento maiores, começam a poder/ter de escolher o que querem fazer ou não, começam a ter algum envolvimento maior com outra pessoa. Se falta uma referência sólida, nesse instante em que várias dúvidas estão presentes, há uma maior dificuldade para os jovens terem a quem se reportar, e assim ficam mais suscetíveis a referências externas ou referências estereotipadas. A princípio não há problema nenhum nessas outras referências, o problema é que elas são limitadas, por isso ter referências mais completas, como os pais/cuidadores, é importante por ampliar o leque de relacionamentos. E uma família mais funcional acaba promovendo maior qualidade de envolvimento entre irmãos e, novamente, novas referências de relacionamento estão presentes.

Happy (Crédito: "doriana_s" - Obtido em: sxc.hu)

Por favor, não vamos pensar que se trata de um mundo rosa e perfeito. É claro que pais e mães e irmãos discutem, brigam e entram em desacordo. Isso faz parte de toda relação humana. O ponto é se os desentendimentos são rotina ou exceção e o quão habilitados estão os envolvidos para resolver a situação, sem ter de recorrer à violência, por exemplo.

A idade adulta traz muitas outras dificuldades, sendo o trabalho possivelmente a maior delas. Vamos falar aqui basicamente desse aspecto, e deixar outros para uma próxima ocasião. No trabalho, é necessária muita negociação e limites são postos a risca o tempo todo. É um desafio não carregar fardos além do necessário.

Paperwork (Créditos: Zsuzsanna Kilian) - Obtido em: sxc.hu

Para o empregado, o ideal é ter clareza na hora de escolher sua profissão, de entender as razões de sua escolha. Por exemplo, escolher uma função porque oferece maior rendimento salarial não é um problema por si só desde que se saiba como são as outras condições, como jornada, exigência, relacionamento interpessoal, etc. Entender o quê te faz escolher isso ou aquilo te ajuda a calibrar sua expectativa e as frustrações causam menos dano, em geral. De novo, não é um mundo cor de rosa e precisa de empenho, de atenção, para evitar desencontros no meio do percurso e quando houver desencontros, que se saiba para onde voltar.

Já para o empregador, as sugestões são aquelas que mostram uma possibilidade de trabalho mais livre e mais atualizada aos modelos recentes de gestão, como por exemplo, aumentar o poder de decisão do profissional, permitir jornadas diferenciadas nalguns instantes que seja, carreiras flexíveis, como a Carreira em Y, enfim, tudo aquilo que respeite e dê espaço à individualidade do sujeito. Isso é uma dificuldade muito grande às empresas, para algumas principalmente porque a própria atividade-fim não dá tanta margem. Para essas, as recomendações são ficar atento aos acordos de trabalho, respeitar a legislação, que são pontos básicos, ao passo que a medida que possível, incentivar situações de confraternização ou treinamentos, enfim, tudo aquilo que possa incentivar a inclusão de cada um dos envolvidos na produção.

Jogo da velha das finanças (Crédito: Dominik Gwarek) - Obtido em sxc.hu

Em suma, se pararmos pra prestar atenção, vamos perceber que embora no início desse post tenhamos falado de prevenção, essa prevenção não é muito além do que adotar posturas que são boas pra qualquer tipo de vida. Ou seja, tais medidas não só evitam patologias específicas, mas evitam que soframos mais que o necessário. Podem contribuir para que os desentendimentos sejam exceção e não rotina, e que nós nos perquemos com menor freqüência, dando-nos chances de nos encontrarmos cada vez mais. A sabedoria popular continua válida, prevenir é melhor que remediar.

Falamos de situações básicas de prevenção, ou talvez mais apropriadamente, de cuidado para conosco e para com o outro. No próximo post, vamos falar mais especificamente de aspectos psicopatológicos e de aspectos preventivos/interventivos que podem colaborar nessas condições. Nós nos encontramos em breve 😉

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