O Psicodiagnóstico como recurso terapêutico

A terapia, conhecida amplamente por todos, é aquele atendimento clássico em que uma pessoa procura um psicólogo para poder obter uma ajuda especializada para uma questão/dificuldade que traz consigo. A natureza de sua demanda varia enormemente de pessoa a pessoa, assim como a intervenção e as propostas feitas pelo profissional. O atendimento psicológico é um verdadeiro desafio pois é um tecido que vai sendo alinhavado a cada atendimento e depende de fatores de grande complexidade.

Alinhavos para a vida

Alinhavos para a vida - (sxc.hu - Tibor Fazakas)

Em muitos processos terapêuticos, contudo, é comum que o terapeuta não consiga lançar luz sobre temas delicados, reprimidos ou muito arcaicos, sobre os quais a pessoa atendida não consegue ainda tecer e elaborar, ainda que minimamente. Existem casos em que pairam dúvidas para o terapeuta acerca da conduta, da estrutura familiar, das condições psíquicas, da afetividade do paciente/cliente. Enfim, disponibilizar-se ao atendimento psicológico é se propor constantemente um desafio e abraçá-lo.

Todo atendimento psicológico pode dar certo ou não. E na maioria dos casos, as razões precisas para o insucesso são tantas que acabam ficando pulverizadas. Nessas situações cabe ao profissional procurar o devido encaminhamento ao seu paciente/cliente, seguindo as disposições dos Conselhos da Psicologia.

Existe um recurso muito saudável e que vem sendo utilizado cada vez por psicólogos, de abordagens variadas: o psicodiagnóstico como parte do processo terapêutico. Um recurso, uma luz auxiliar no caminho que se percorre. Não se trata de fazer da atividade de avaliação psicológica uma terapia, obviamente que isso não atenderia a nenhum princípio legal, pragmático ou teórico. Mas o psicodiagnóstico é sim um recurso terapêutico ao ser capaz de levantar questões pessoais e sistematizá-las para que o terapeuta, dentro de sua relação pessoal e intransferível para com seu paciente/cliente, possa se valer em suas conclusões e intervenções terapêuticas.

À luz do psicodiagnóstico

Às vezes o curso requer mais de um facho de luz (Obtido: sxc.hu - na nau)

 

O psicodiagnóstico não se trata de uma forma impertinente de perscrutar a pessoa e fazê-la deitar todas suas questões. Também o psicodiagnóstico está cheio de limitações. Mas ele é sim uma forma de atuação que pode beneficiar o paciente/cliente ao dar-lhe maneiras diferentes de expressão pessoal, o que às vezes ainda não se apresenta no discurso ganha contornos em desenhos, em questionários, em suas projeções.

Esse contorno devidamente analisado pode acabar por fomentar as questões, dar início a um processo de auto-análise que por sua vez é aproveitado pelo terapeuta. Em todos esses instantes, no encaminhamento do paciente/cliente, durante o processo de psicodiagnóstico, na devolução para o psicólogo e para a pessoa avaliada, cabem doses fartas e ininterruptas de ética e obediência às propostas dos órgãos de classe.

O avaliador não tem – e jamais poderia ter – qualquer propósito de “aliciar” o paciente/cliente do outro psicólogo, a começar por ser essa gravíssima infração ética. Mas também porque sua figura de avaliador é requerida como tal e não como terapeuta. O terapeuta é outra pessoa com quem o avaliado possui uma relação mais longa e fértil, com quem trabalha as temáticas assinaladas na avaliação e outras tantas que podem ter ficado de fora. Trata-se aqui da atuação livre e criativa da mente humana, jamais redutível, mas sempre fascinante.

Quando falamos de psicodiagnóstico para a psicoterapêutica não estamos direcionando a atenção a um diagnóstico formal. Naturalmente, caso haja quadros reconhecidos eles são apontados, mas o valor verdadeiro do psicodiagnóstico é tentar traduzir questões primárias, dar conhecimentos e pareceres que poderiam requerer tempo delongado demais na terapia – por ainda não serem objeto de expressão pronta, como a fala – e abrir um canal de comunicação de intervenções, técnicas e procedimentos. O avaliador se torna um interlocutor momentâneo no processo e para tanto figura sua voz por um período de tempo no ensejo de dar voz à pessoa avaliada, voz essa acolhida pelo terapeuta, esse sim imerso no conhecimento e nas intervenções caras e apropriadas para seu cliente/paciente.

A voz é do paciente

A voz é sempre do paciente (obtido: sxc.hu - RAWKU5)