O início do ano é marcado por muitas festividades que culminam no carnaval. MAS além das comemoração, é muito comum que organizações diversas aproveitem o período – até depois do carnaval – no intuito de desenhar os planos para o ano que está por correr. Trata-se de um instante muito saudável e muito importante, pois esse planejamento pode evitar muita confusão, desperdício e mesmo sofrimento ao longo do ano.
Quando pensamos em “planejamento” em geral associamos a uma empresa formal com sua expectativa crescente de lucro e aquele clássico gráfico projetivo. A bem da verdade, o planejamento serve para vários propósitos e para vários locais, como escolas, ONGs, Associações de Bairro, Órgãos do Governo e etc. Até mesmo uma pessoa pode ter o seu planejamento particular, claro com as distinções necessárias, mas que a ajude a manter o foco dos pontos importantes e dos objetivos, pessoais e profissionais.
A base de todo o planejamento, valendo-nos dos ricos ensinamentos de Kaplan e Norton – grandes mestres do Planejamento Estratégico – é fazermos o plano ganhar forma e conteúdo em papel. Ou seja, um plano mental é apenas um plano mental, mas quando assume corpo escrito, quando seus propósitos se tornam claros e objetivos, temos a chance de não somente buscar maneiras simples para expressá-lo como também refinar o pensamento e deixar o plano mais afiado para sua execução.
Hoje, no entanto, vamos falar de outra fase crucial de todo planejamento e que nem sempre recebe a atenção devida. Trata-se do instante de Avaliação do Planejamento, aquele em que os responsáveis pelo planejamento procuram saber se o que era pra acontecer de fato aconteceu e se não, o que fazer.
Esse momento crucial é muitas vezes negligenciado por duas razões primordiais: (I) falta de conhecimento acerca dos recursos e das ferramentas que possam auxiliar na implementação de uma avaliação eficaz; (II) uma idéia errônea de que avaliar é ruim, quase um preconceito de que fazer qualquer tipo de avaliação é o mesmo que tirar o sabor da coisa, porque nunca se consegue avaliar tudo.
Essa segunda razão é mais frequente do que pensamos e nem sempre está vinculada a primeira razão, a da ausência de conhecimento. Ponderamos que a avaliação em si é como todo e qualquer procedimento interno em uma organização, ou seja, não podemos defini-la como um evento ruim a priori, pois gestores e funcionários precisam ter resultados confiáveis acerca de suas atividades. Infelizmente, essa má fama advém de uma avaliação mal feita, a qual por sua vez gera decisões enganadas e espessados desconfortos. Aqui também reiteramos que a avaliação possui seus grandes méritos, seu uso – como qualquer outro – pode ser bem ou mal feito.
Ora, como fazermos para que uma avaliação seja bem realizada? Essa é uma pergunta capciosa, pois não temos condição de oferecer uma resposta única e direta. Ela depende de cada tipo de organização, depende da necessidade, do tempo, das pessoas e das ferramentas. Em suma, essas variáveis precisam assumir a mente do avaliador.
O que é importante pensarmos na hora da avaliação é que ela é um tipo de bricolagem, ou seja, precisa ser feita por conta própria, adequando-se ao contexto e as variáveis existentes. Podemos encontrar muitas avaliações prontas para uso [prêt-a-porter] no mercado. São questionários-modelo que nos orientam com perguntas e tópicos que precisam ser apreciados, mas se os utilizarmos cruamente não teremos sucesso. É importante que façamos a avaliação nós mesmos, que botemos a mão na massa, juntemos as peças, usando uma bricolagem de avaliação.
Não custa lembrar que estamos falando de avaliações organizacionais, de livre acesso e execução por parte dos gestores. Não estamos falando da Avaliação Psicológica propriamente dita, de um processo Psicodiagnóstico, pois cada qual possui especificidades. A Avaliação Psicológica tem lá sua fundamentação e destino.
Primeira, e decisivamente, vamos pensar no que pretendemos avaliar. O que é necessário saber. Necessário não é o mesmo que desejado. O desejado pode entrar na fórmula posteriormente, mas mantenhamos o enfoque naquilo que é verdadeiramente genuíno, as informações cruciais. Como o que é crucial possui impacto direto na situação, assim que avaliarmos o crucial teremos um retorno automático, o que nos ajuda a manter a avaliação limpa, efetiva e perceptível. Se o que é crucial não estiver bem precisamos tomar providência. Se estiver adequado, como podemos melhorá-lo?
Ademais, vamos situar nossa avaliação no tempo e no espaço que possuímos. Não será saudável disponibilizar o último mês do ano para saber se a condição do local de trabalho coloca em risco a segurança psíquica de funcionários de um dado setor, pois até que a avaliação ocorra várias situações podem já ganhar a cena. Portanto, ajustemos a periodicidade da avaliação. Algumas avaliações podem ser feitas anualmente outras, porém, precisam ser semestrais, bimestrais ou ainda mensais. Sempre que em conformidade com a necessidade do tempo e da condição avaliada.
Ainda falando do tempo, pensemos sempre em quanto tempo é preciso para realizar a avaliação. Isso está diretamente relacionado às ferramentas disponíveis. A demanda de tempo para uma avaliação por meio de entrevista individual de 150 funcionários difere completamente daquela avaliação dos mesmos 150 funcionários por meio de um questionário. Naturalmente, os dados produzidos são distintos, enquanto numa temos maior riqueza de detalhes noutra ganhamos uma apreciação mais global e focada. Enquanto uma especifica situações no plano microscópico a outra revela a macroscopia da situação.
Tal diferença ajuda-nos a nos orientar quanto ao uso de avaliações quantitativas e qualitativas. Precisamos ponderar sobre qual tipo de informação possui maior relevância. Se os resultados forem extremamente particulares como tomar providências para o público geral? Essa condição crítica afinal realmente se repete? Qual o grau de urgência?
Volta e meia encontramos uma tendência a prescindir de avaliações quantitativas formais com o conceito de que elas nada informam, de fato. No entanto, sem tais avaliações quantificáveis muitas vezes não podemos ter a noção exata de uma dada condição. Ao mesmo tempo, vale muito a pena incluir apreciações qualitativas acerca do contexto. Ou seja, ao invés de preterir uma a outra, procuremos mesclar avaliações quantitativas e qualitativas. Assim, ao nos depararmos com um nível crítico de urgência – determinado quantitativamente – sabemos também que medidas espontâneas já estão sendo tomadas, o que pode ser expandido para todos os setores rapidamente.
Noutras situações precisamos rapidamente saber se há satisfação ou não para tomar uma decisão, avaliação essa que não pode esperar por seqüências de entrevistas. Daí selecionarmos pessoas chave para uma sondagem qualitativa enquanto fazemos o levantamento quantitativo com o grupo completo. Mais uma vez, sempre adequando a avaliação ao contexto e principalmente às pessoas envolvidas.
Em suma, quando procedemos a uma avaliação precisamos saber bem o que é preciso avaliar, os recursos disponíveis para tanto e o tempo que nos é concedido. Precisamos montar um planejamento claro para que tenhamos diretrizes também claras. Além disso, tal planejamento precisa incluir a avaliação como etapa e não fim, ou seja, a avaliação cabe naquele plano uma vez que do resultado da avaliação um novo plano será traçado. Avaliar por avaliar tão somente constitui um sub-aproveitamento de recursos e tempo, além de inutilmente expor pessoas a uma condição desconfortável.
Fazemos, por fim, um assinalamento sobre a potência do cuidado com a avaliação. O cuidado com nossas atividades é revelado na potência que elas possuem. Nem sempre dispomos de todo o tempo ideal, mas o cuidado e empenho potencializam aquele tempo e podem fazer com que mesmo uma avaliação simples ganhe uma grande aplicabilidade. Daí, mais uma vez, a relevância da bricolagem de avaliação, desse processo de construção que permite agrupar e ajustar ferramentas e contexto e nos dá a feliz margem de obter um produto final vigorosamente válido, com aquele devido cuidado, técnico e humano.