Para prover um atendimento de qualidade na área da saúde vários fatores precisam agir em conjunto. É preciso ter um conhecimento na área, tomar o cuidado de se atualizar, dar atenção ao paciente, saber ouvir suas queixas e orientá-lo a respeito de sua situação. Mas, em meio a tudo isso existe um ponto substancial, de grande relevância: o diagnóstico.
Podemos dizer que o diagnóstico é o estabelecimento de uma linguagem comum para diferentes práticas profissionais, é a conexão entre campos de conhecimento. O diagnóstico jamais deve ser visto como um luxo ou uma prerrogativa de determinadas situações ou condições, uma vez que ele é uma necessidade que precisa ser atendida, sobretudo na atualidade, em que a concepção do homem e de sua saúde tem assumido uma concepção cada vez mais integral, ou seja, áreas que antes possuíam poucos vínculos começam a estabelecer e desenvolver surpreendentes e frutíferas relações.
Vários têm sido os progressos acerca da evolução dos diagnósticos no campo da saúde, e, em especial, da Psicologia. Como não temos a pretensão de fazer um percurso histórico – que certamente seria interessante, mas ao mesmo tempo perigosamente inoportuno nesse post – basta-nos citar a Classificação Internacional de Doenças [CID], correntemente em sua 10ª versão, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [DSM], atualmente em sua 4ª versão revisada. Tais classificações doutrinam a prática de diferentes profissionais, criam condições para que conversemos e nos entendamos. O levantamento das possibilidades diagnósticas, dos sinais mais comuns nas patologias, dos cuidados e das possibilidades terapêuticas é de grande importância para todo aquele que lida com o bem-estar alheio.
Seriam esses manuais exaustivos? Hiper-competentes? Indiscutíveis? Não. Certamente que não. São duas referências constantemente atualizadas e ainda tem muito trabalho pela frente. Contudo, o fato de serem passíveis de desencontros e questionamentos apenas reforça nosso desejo de buscar o conhecimento mais amplo, de consolidarmos as melhores práticas. Tudo isso é uma chama que reside em todos os profissionais que lidam com a saúde, e é um desejo grande que carece de atenção e que se concretiza de maneira gradual.
Juntam-se a CID-10 e ao DSM-IV-R outros tantos compêndios, handbooks, tratados, revistas e etc., que auxiliam os profissionais a se manterem atualizados com sua comunidade, fazendo uso de um conhecimento muito mais amplo que a prática particular, exercendo toda a potência possível da própria palavra grega dia-gnose [através do conhecimento].
O diagnóstico é, portanto, o ponto de partida que desengata a adoção de procedimentos de naturezas das mais diversas: terapêuticas, educacionais, jurídicas, pessoais, e quantas outras possíveis. O diagnóstico não encerra, ele é o início. Não deve ser visto como um rótulo, pois pode ser muito mais do que uma designação fria, é um momento de dar início ao cuidado, é provimento de atenção especializada que podemos e devemos oferecer a alguém.
É claro que não possuir um diagnóstico não impede o início de terapêutica, ainda que paliativa, muito porque se trata de um processo delicado, nem sempre alcançado rapidamente ou mesmo em médio-prazo. Existem situações em que o diagnóstico carece de meses para ser formulado. O que não se pode perder nesse entremeio é a tensão da dedicação, o desejo de que a terapia indicada seja adequada às necessidades e possibilidades da pessoa atendida.
A psicologia tem também se mostrado sensível à necessidade de demarcar o campo do diagnóstico, do psicodiagnóstico. Em 2011, o Conselho Federal de Psicologia [CFP] promoveu o Ano da Avaliação Psicológica para discutir e reforçar pontos relevantes dessa área que desde 1962 caracteriza a especialidade do Psicólogo, garantida em lei.
Retomando a noção ampla de saúde, a Psicologia – e a Avaliação Psicológica em especial – tem se aliado a áreas em busca de oferecer e obter auxílio. Tem sido assim com a Psiquiatria, a Neurologia, a Pedagogia, a Nutrição, a Fonoaudiologia, o Direito, o Educador Físico e outras tantas. Saúde não se refere mais tão somente a uma condição física, mas a uma noção global de bem-estar.
Por isso, encontramos casos variados e muitas possibilidades. Pessoas que não aderem ao tratamento ainda que vital passam a ser acompanhados também pela Psicologia, e para tanto o psicodiagnóstico prova ser uma fonte fiável de recursos e temáticas. O mesmo ocorre com pessoas que se encontram diante de eventuais intervenções cirúrgicas que trazem grandes modificações em suas vidas ou ainda com o aluno que tem dificuldades escolares. No campo organizacional, um exemplo são os trabalhadores expostos a estresse contínuo, etc. Mesmo dentro da própria Psicologia, em um processo terapêutico, a realização de um psicodiagnóstico traz grandes possibilidades de acompanhamento para aquela pessoa, e pode surpreender os envolvidos.
Nunca é demais citar que em todas as ocasiões possíveis e citadas, em cada minuto, é preciso considerar cuidadosamente os propósitos da Avaliação Psicológica. Tudo precisa ser regado com doses abundantes de Ética, Ética e Ética. Ética é mais que palavra, é postura da qual não podemos abrir mão ou mesmo titubear.
O Psicodiagnóstico tem o propósito muito maior do que documentar atividades, funções, percepções. Ele é um espaço primevo de auto-percepção, o ponto inicial da busca de recursos diante das situações postas. É, de certa forma, um convite para uma busca ampla de cuidado e compreensão. O Psicodiagnóstico – a Avaliação Psicológica – poderia até ser pensado como um exame complementar nalgumas ocasiões, como habitualmente fazemos em certas ocasiões. Mas de fato ele é muito mais do que um complemento, pois ele se realiza numa relação, num vínculo que precisa existir. Isso não pode ser encarado como complementar posto que é substancial para qualquer pessoa. Sustentamos nosso trabalho justamente nesse pequeno, mas sólido, espaço de construção de relacionamentos que encontramos no momento em que estamos diante da pessoa.